top of page

AS 6 FORMAS DE AMAR


Descobri recentemente navegando pela minha biblioteca virtual que na Grécia antiga existiam 6 formas de amar. O tema me seduziu e quando me dei conta já tinha devorado. Passei anos sonhando com um relacionamento harmônico e hoje atendo casais que buscam o mesmo.

Terapia vai, terapia vem e os atritos continuam fazendo parte das relações. Eu não desisti de sonhar e hoje tenho sim um relacionamento construtivo e afetivo e por isso acredito nessa possibilidade, mas confesso que a maneira refinada de pensar dos gregos me cativou.

Me fez perceber como olhamos para o amor de forma empobrecida e acabamos carente do que não sabemos.


Eram seis as formas de amar, a primeira representada por Eros, o Deus Grego, semelhante ao que chamamos de paixão. Um amor físico, desenfreado e até desesperado. Quem já não viveu um amor Eros?

Porém Eros era visto como uma forma perigosa de amar, e apesar do amor sem controle havia possibilidade de dominação. Na vida cotidiana Eros aparecia nas obscenas encenações de tragédias durante os festivais teatrais. Metade homem, metade bode, com falos enormes.

Cheio de beleza sensual e com um toque de tragédia, esse amor apaixonante e erótico nos leva a fantasias que nos aprisionam.


A segunda forma de amor, Philia, pode ser traduzida como amizade. Trata-se de encontros mais virtuosos, onde a sexualidade de Eros é substituída por dedicação, cuidado, afeto e intimidade. A força de Eros também é desconstruída já que aqui a vulnerabilidade começa a aparecer pois envolve possibilidade de apoio e co-dependência. O amor Philia naquela época era visto entre soldados aliados, chamados irmãos de armas. Ou será que poderíamos dizer um amor entre irmãos de almas?

Enquanto Philia transmite uma certa seriedade, um terceiro tipo de amor é valorizado pelos gregos antigos, o amor lúdico e brincalhão onde nossa espontaneidade reina como crianças tocadas pelo simples viver. Tendemos a associar a nossa disposição brincalhona ao inicio da relação, onde a leveza e a descontração ainda acontecem devido aos flertes e também, ao meu ver, ao desconhecimento das imperfeições do outro. Ludus se tornou uma forma de arte em meio a Aristocrácia Francesa.

Parece que a salsa e o tango manifestam um pouco desse encontro lúdico, apesar de eu particularmente enxergar muita sensualidade no tango. Aprendemos a reprimir nosso amor Ludus e muitas vezes precisamos resgatá-lo para que a leveza seja encontrada nas relações. Ao meu ver esse amor fica preso a alguns períodos da vida e a algumas pessoas que viveram tal período conosco. Por exemplo, sabe aquele encontro entre amigos da escola cujo as piadas só eles entendem e muitas vezes só eles acham graça (risos)? Ou aquela pessoa que sempre que você encontra te leva a um estado de descontração onde você literalmente se abre? Ou ainda, aquelas brincadeiras que só eram possíveis naquele relacionamento?

Eu particularmente me encontro nessa forma de amar e através dela identifico as pessoas com quem realmente consigo viver relações sinceras e leves. Esse amor possibilita para mim um encontro com a nossa criança interior e assim surge um amor espontâneo e verdadeiro.

Fica relativamente fácil para mim expressar o amor quando estou em um momento ludus. Talvez mais difícil que falar te amo olhando nos olhos. As fotos que coloco aqui foram tiradas em uma vivencia de clown essencial que eu e meu marido tivemos a oportunidade de participar com o querido terapeuta Alain Vigneau onde pudemos nos reconectar com o amor lúdico.



Porém os casamentos na Grécia Antiga raramente eram lúdicos e dificilmente ludus aparecia no início das relações, uma vez que grande parte dos casamentos eram arranjados pelos pais e a mulher estava subordinada aos desejos do marido. Daí surge o quarto tipo de amor, chamado de Pragma ou amor maduro. Trata-se aqui do amor construído, mais realístico e por sua vez estável. Aqui cabe o comprometimento e o esforço para que a relação dure para sempre.

Eu tive a oportunidade de viver uma amor Pragma, pois quando conheci meu marido fui morar fora e passamos quase dois anos nos comunicando e nos conhecendo sem poder viver o amor físico. Sinto que esse é um amor diferente. Ao meu ver, se esse casal não conseguir trazer Eros e Ludus para a relação corre o risco de transformar o Pragma em Philia.

Aqui começamos a perceber o quanto os amores são paradoxais: seriedade x ludicidade, paixaõ x obrigação, momento x construção, dependência x liberdade, eterno x passageiro.

E não termina por aqui, enquanto Pragma exige uma dedicação ao parceiro surge a quinta forma de amar: Agape - o amor altruísta, sem exclusividade, sem expectativa, sem obrigação. Um espelho ao que deveria ser a solidariedade humana. Ouvi em um curso durante a pandemia que a solidariedade é filha do luto ou do receio da perda, e imagino que deve ser por isso que Agape se tornou a chave para os cristãos descreverem o amor divino de Deus. Amor que aparece no evangélio como “ame o teu próximo como a ti mesmo”, tornando-se a mais elevada forma de amor que em algum momento encontra com o Budismo Terevada através da bondade amorosa universal.


A beleza de Agape é que ele ajuda a equilibrar nosso desejo profundo de ser amado. O que da origem a ultima forma de amor chamada de Philautia ou amor-próprio. O interessante é que esse amor poderia se manifestar de duas formas: negativa e positiva.

A negativa que nada mais era do que a busca por obter prazeres pessoais, visto muitas vezes como egoísmo. Seu perigo foi revelado no mito de Narciso, o irresistível jovem que se apaixonou pelo seu próprio reflexo na lagoa, e lá se olhando e se embelezando definhou até a morte.


Isso reverberou por muitos anos no pensamento ocidental e talvez seja uma das razões históricas pela qual muitos de nós nos atropelamos, nos sabotamos e sentimos culpa quando queremos fazer algo por nós mesmos. Freud inclusive referiu-se como um redirecionamento patológico da nossa libido para nós mesmos, tornando-os incapazes de amarmos uns aos outros.

Por sorte, Aristóteles havia reconhecido uma versão mais positiva do amor-próprio, que intensificava nossa capacidade de amor. “TODOS OS SENTIMENTOS AMISTOSOS PELOS OUTROS SÃO EXTENSÕES DOS SENTIMENTOS DE UM HOMEM POR SI MESMO”. A mensagem era que, quando gostamos de nós e nos sentimos seguros de nós mesmos, temos amor em abundância para dar.

Por outro lado, se negamos ou temos aversão por algum aspecto em nós mesmos teremos menos para oferecer ao outro.

Ao que parece, não devemos ser idolatrados por nós mesmos e também não devemos nos rechaçar. Ambos os extremos podem levar-nos ao desamor pelo outro e vínculos corrompidos. O caminho é reconhecermos nossas limitações e imperfeições assim como nossos talentos.

Agora que conhecemos as 6 formas de amar, o que podemos dizer sobre o amor nos dias de hoje?

Tendemos a acreditar que uma única pessoa será capaz de atender todas as nossas necessidades amorosas o que pode nos levar a constantes frustrações.

Será que ao assumirmos que temos tais necessidades podemos mapea-las em nossas vidas e perceber de que forma estamos recorrendo ao amor? Há ludicidade? Ainda existe Eros em minha vida? Estou disposto a semear uma relação para viver um amor maduro?

Para que consigamos cultivar diferentes formas de amar, precisamos desconstruir o MITO DO AMOR ROMÂNTICO que emergiu no ocidente durante o ultimo milênio com a possibilidade de encontrarmos uma alma gêmea, que é praticamente impossível. Podemos passar a vida a procura dessa pessoa elusiva que satisfará todas as nossas necessidades emocionais e nossos desejos sexuais, que nos proporcionará amizade e autoconfiança, conforto e risos, estimulará nossas mentes e compartilhará nossos sonhos.

A verdade é que o mito do amor romântico apossou, pouco a pouco, das variedades de amor que existiam no passado, absorvendo-as numa visão monolítica nos aprisionando em uma crença infundada e muitas vezes perigosa de que todas as variedades de amor podem e devem ser encontradas numa única pessoa e muitas vezes em um único momento.

A idéia de escrever esse texto é provocar algumas reflexões sobre nossa relação com o amor e a forma como nos relacionamos.

Uma oportunidade para:

- calibrarmos nossas expectativas diante do nosso companheiro ou companheira.

- percebermos nossas limitações assim como as do outro.

- compreendermos que tipo de amor buscamos.

- quais formas de amar temos sentido falta em nossas vidas?

- através de qual forma de amor conseguimos nos expressar melhor?

Pode ser maravilhoso e libertador se reconectar com as diferentes possibilidades de sentir e expressar o amor e desenvolver formas mais maduras de amar e ser amado.

Partes do texto foram extraídas do livro: Sobre a arte de viver -

lições de história para uma vida melhor. Roman Krznaric

170 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page