Quanto “se” tem do seu amor?
Quando falamos em amor incondicional, é quase automático pensar no amor entre mãe e filho. Aquele que brota das profundezas, abundante, ilimitado, absoluto, sem nada esperar em troca. Sinto lhe dizer, mas essa bela imagem não passa de uma crença ingênua. Quando nascemos, somos, sim, amados pela nossa simples existência, durante algum tempo. Mas, muito cedo, ali pelos dois anos de idade, começamos a sentir na pele as condicionantes do amor, quando nossos pais se sentem chamados a assumir seu papel de educar. Somos amados se nos comportamos bem, conforme todas as regras sociais que vamos aprendendo no caminho.
A percepção e o exercício contínuo dessa dinâmica – sou amado se – nos transforma em adultos que também praticam o amor condicional. As relações dos casais, especialmente, funcionam à base de muita cobrança e barganha. Se eu queria chegar em casa e ser convidada para jantar, e isso não acontece, me fecho. Se eu gostaria de receber mensagens ao longo do dia, e não as recebo, faço cara feia. Dou se (e somente se) recebo.
Ou seja, correspondemos ao amor, mas não o damos assim, de graça, simplesmente quando temos vontade. Tenho para dar, mas não dou. Quero fazer carinho e estar junto, mas não faço. Antes disso, preciso da segurança de que serei bem recebido. Necessito uma pista de que sou amada. Mas por quê? Afinal, por que é tão especial receber? Por que cobramos amor, carinho, atenção e desejo, mas não damos?
Temos a sensação de que ao darmos, sem segurar nem um pouquinho desse amor, colocamo-nos num lugar de fragilidade. Se damos e não nos sentimos correspondidos, ficamos em desvantagem. Deixamos o outro por cima, como se as relações amorosas fossem sustentadas em hierarquia e poder. E, assim, transformamos nossas relações em verdadeiras competições. Tristemente, desencontramo-nos do outro e de nós mesmos, escondendo bem escondidinho o amor que sentimos vontade de oferecer.
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