Com a chegada dos filhos, a vida do casal passa por uma grande transformação e a equação familiar se torna mais complexa. Embora muito se fale do assunto, uma das variáveis dessa equação ainda é pouco comentada: o número de crianças que se somam ao casal para compor a família. Já reparou como as “famílias pares” têm dinâmicas diferentes das “famílias ímpares”? Se 2 pessoas viram 3, ou 4, 5, 10..., o resultado da conta varia. E quase nunca é exato.
Essa “matemática familiar” começa com um dado importante: todos nós chegamos ao mundo como seres fusionais. Ou seja, nos nossos primeiros meses de vida, dentro e fora da barriga, somos pessoas em fusão com nossa mãe. Essa condição simbiótica tão marcante da nossa origem faz com a gente tenha a tendência de procurar um par que nos faça sentir completos, confortáveis. Pode ser um melhor amigo, nosso pai ou nossa mãe, um irmão, um cuidador... Com quem quer seja, é natural querer andar pela vida de mãos dadas, ao melhor estilo “por onde for quero ser seu par”.
Quando nasce o primeiro filho, a família de 2 vira família de 3, e a estabilidade do par original é chacoalhada. E aí? O que acontece é que esse par tende a se “romper” para que a mulher possa fazer a simbiose com a criança. O parceiro pode levar um tempo para conseguir reencontrar seu lugar na família. É comum que fique deslocado. Mas qual a saída?
A saída parece ser manter a aliança que veio primeiro. Se o casal consegue se preservar unido e o mais próximo possível, o bebê ficará livre para se desenvolver com autonomia e compor com outros pares, sem se colocar entre o casal – tudo a seu tempo, claro.
No caso da chegada de um segundo filho, a dinâmica muda de novo, pois formam-se dois pares. Se você faz parte de uma família de quatro pessoas, observe: como esses pares se organizaram e onde cada um dos filhos encontrou sua aliança? Na maior parte das vezes, cada filho se funde a um dos pais. Se o primeiro fez a simbiose com a mãe, o segundo a fará com o pai. E vice-versa.
Note: nessa configuração de pares formados por pais + filhos, o casal fica separado. E, por isso, é comum que o nascimento do segundo filho também traga uma série de questões conjugais, embora o casal já tenha uma certa experiência acumulada de maternidade e paternidade.
E qual seria uma dinâmica saudável para a família de quatro elementos? De novo, fortalecer a aliança do casal para permitir que os irmãos se aliem. Por que, se a aliança do casal é rompida e cada filho estabelece um vínculo de “dependência” com o pai ou a mãe, essa dinâmica impede que o outro irmão se vincule inteiramente com esse pai ou essa mãe – e, assim, nessa “disputa de território afetivo”, as crianças tornam-se rivais. O resultado é que os pais ficam frustrados, por não conseguirem manter uma aliança entre si, além de ter filhos que competem o tempo todo. E isso é muito mais comum do que se imagina. Por isso, é fundamental que o casal busque uma forma de repactuar o casamento, reorganizando-se para nutrir a relação.
Quando vem um terceiro filho, formando uma família de cinco, em geral, dois pares se formam, enquanto um busca a sua independência. Se você vem de uma família de cinco, observe se não tem alguém que “rompeu” com o sistema familiar, saiu de casa cedo, foi morar em outra cidade ou até mesmo declara-se excluído. Com consciência, é possível – de novo – fortalecer a aliança do casal e evitar parcerias fixas inconscientes com os filhos, cuidando de ter momentos únicos de troca com cada um deles.
Nas famílias antigas, que costumavam ser mais numerosas, era comum ver um irmão cuidando do outro. O papel dos pais ficava muito claro e até resguardado com uma certa distância das crianças, permitindo-lhes formar alianças entre si.
Hoje, quando se fala em educação parental ou em parentalidade consciente, portanto, é preciso levar em conta esse aspecto numérico das famílias. Ele é muito importante na forma como as relações vão se configurar ao longo da vida.
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