Quando parei para escrever sobre a chegada do segundo filho lembrei de ter escutado “o segundo é mais fácil”. Será?
Não se trata de fácil ou difícil, e sim de DIFERENTE. Palavra que devemos lembrar sempre quando falamos de filhos e irmãos.
Quando engravidamos do segundo filho imediatamente passamos a comparar as gestações. Usamos frases como “nessa estou enjoando menos”, “estou mais inchada”, “na primeira não senti isso” e assim por diante. Isso é muito comum, e esse olhar comparativo se mantém ao longo da vida das crianças.
A forma como descrevemos o segundo bebe é relativa ao primeiro, ou seja se o primeiro chorava muito e o segundo menos iremos ouvir ele é tranquilo “ou” ele é calmo” – podemos não perceber mas esse comentário tende a ser em relação ao primeiro.
Também tentamos ser a mesma mãe para os diferentes filhos “eu fiz isso para ela e agora quero fazer para ele”, “eu fiquei um pouquinho com você e agora vou ficar com seu irmão”.
Essa busca, até inconsciente, pela igualdade e pela justiça uma vez que queremos tratar os filhos da mesma forma, pode causar muita frustração, tanto em nós pais como no primogênito.
Jamais seremos a mesma mãe e o mesmo pai para todos os nossos filhos. Temos mais experiência não só como mãe e pai, amadurecemos e estamos em outro momento de vida o que faz com que tudo seja diferente: a dinâmica da família no momento da gestação e do nascimento, as circunstancias em que acontecerá a chegada uma vez que agora existe a preocupação com o primeiro filho, a situação financeira, o momento de vida , a idade do primogênito entre outras. E o mais importante, cada criança é uma criança e as suas atitudes e emoções como pais despertarão sentimentos diferentes em cada um. Por exemplo: um pode ser mais sensível ao levantar da voz enquanto o outro não se incomoda.
Por mais que pareça óbvio que cada filho tem o seu devido lugar na família, muitas vezes nos esquecemos disso. Quando minha segunda filha nasceu, meu filho tinha 1 ano e 10 meses apenas, e me deparei muitas vezes com a sensação de que ele tinha que entender como se fosse um menino grande. Que nada!
Pode levar um tempo até que o primeiro filho se disponha a aceitar seu irmão ou irmã. Isso porque em geral ao nosso olhar o amor que tínhamos se multiplicou enquanto ao olhar do primogênito “o amor que tu me tinhas se partiu”.
Ou seja, existe sim uma sensação de “retirada do amor” que leva a criança a lidar com a ira. A raiva dos pais e do irmão ou irmã mais novo, muitas vezes velada tanto pelos pais quanto pela criança pode levar às explosões de ciúmes, manhas e crises de ódio.
Bem vindos a relação entre irmãos – pautada no amor e no ódio. Como podem sentimentos tão antagônicos caminharem tão juntos?
Essa é a chave para a reduzir o clima de rivalidade entre os irmãos: aceitarmos que o ciúmes, a raiva, as provocações irão existir. Se olharmos como algo natural que faz parte da vida contribuiremos para que os irmãos se tornem aliados.
Por outro lado se tentarmos criar um reinado só de amor, além de reprimirmos o ódio, tenderemos a ser defensores dos mais “fracos e oprimidos.
Para evitar que isso aconteça, devemos nos livrar de nosso senso de justiça e assumir que nem sempre deve haver um certo e um errado. Ao deixarmos de ser juízes dos nossos filhos, deixamos de alimentar a rivalidade entre eles.
Você deve estar se perguntando, “como aceitar a raiva e o ciúmes como algo natural?
O irmão mais velho pode demonstrar alguns sinais de incomodo como regredir e querer voltar a ser bebê, começar a fazer birras e manhãs, chorar sem motivo claro, ou até mesmo dizer coisas como “você só fica com o bebê”, de novo você vai pegar ele? Assim como o mais novo pode querer continuar bebê por mais tempo pois percebe que nesse lugar é protegido e recebe o olhar dos pais.
Nesses casos, tendemos a por o que chamo de panos quentes como forma de ignorar o sentimento de angustia da criança e mudar o foco.
Por exemplo: “filho, eu estava com você até agora. Agora vai brincar, vai tomar um lanche… “ ou “filho você não é mais bebê”.
A criança não se sente compreendida e a angustia permanece. Se acontece repetidamente surge as frustrações que podem dar lugar a novas birras e manhas e ainda aumentar a raiva que sente do irmão e dos pais.
O que fazer então? Quando um dos filhos manifestar os sinais acima leia entre linhas e volte a atenção para ele, não justifique ou proteja o outro filho.
Você está querendo ficar mais com a mamãe? Ou, você não gosta que eu fique tanto tempo com seu irmão?, Ou, você fica triste quando paro para amamentar?
Um exemplo corriqueiro com crianças de idade um pouco maior: você coloca a comida em ambos os pratos e eles começam a comparar para ver quem tem mais…aquele que falou “ele tem mais” deve ouvir “você acha tem certeza que quer mais, está com tanta fome assim?” ao invés de “ coloquei 3 para cada um”.
Se criamos o hábito de voltar a atenção da criança para si mesma, contribuímos para que ela se sinta compreendida e ensinamos esse pequeno ser em formação a olhar para suas próprias necessidades e desejos ao invés de seguir aquilo que o outro quer.
Dar um lugar e um reconhecimento para o sentimento de cada um é crucial e dessa forma o possível duelo entre irmãos se dilui, e a aceitação se torna parte.
O ciúme entre irmãos não é obrigatório e depende muito da atitude dos pais.
Karl Konig, um médico da década de 40, autor do livro Irmãos e Irmãs não fala de ciúmes e sim nos coloca a responsabilidade de conduzir a relação com os filhos levando em consideração as diferenças de acordo com a ordem de nascimento de cada um.
Konig deixa claro que as motivações internas de cada um é diferente: O primogênito tenta conquistar o mundo O segundo filho procura viver em harmonia com o mundo O terceiro filho é inclinado a esquivar-se do encontro direto com o mundo.
Fica a reflexão!
Comments